COM AS CORDAS À VISTA: RAÇA, OBJETOS E ABOLICIONISMO EM QUANTO VALE OU É POR QUILO?, DE SÉRGIO BIANCHI, E “PAI CONTRA MÃE”, DE MACHADO DE ASSIS

Pedro Lopes de Almeida

Resumo


Estreado em 2005, o filme de Sérgio Bianchi Quanto Vale Ou É Por Quilo? constitui uma adaptação criativa do conto “Pai Contra Mãe”, de Machado de Assis (publicado em Relíquias da Casa Velha, 1906). No filme, Bianchi desenvolve duas tramas paralelas, cada uma ocorrendo num período histórico diferente. Neste artigo, abordarei a relação entre o filme de Sérgio Bianchi e o conto de Machado de Assis, concentrando-me nos elementos materiais que criam um portal simbólico entre o mundo de Machado e o de Bianchi. Interessa-me especialmente a forma como os artefatos da sociedade pré-abolição são colocados em diálogo com artefatos do Rio de Janeiro contemporâneo. Essas relações, que emergem através da minha leitura do filme de Bianchi e do conto de Machado, complicam ideias comuns sobre continuidades históricas e rupturas na vida quotidiana da cidade. Defendo que esses objetos são eles próprios intérpretes do Brasil, no sentido em que criam, organizam e transformam o significado da realidade em seu redor. Encontro, em particular, uma ligação entre a corda do conto machadiano e os veículos de polícia no filme, apontando para uma crítica do aparato policial como uma sobrevida da escravatura, mas também uma crítica controversa e complexa da “economia sem fins lucrativos” e da manutenção de desigualdades estruturais. Essas redes de sentido, proponho, só se tornam inteiramente visíveis quando entendemos o filme de Bianchi como um modo de diálogo com o conto de Machado de Assis.

Palavras-chave


cordas; polícia; abolicionismo; Machado de Assis; Sérgio Bianchi.

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