UMA ENCICLOPÉDIA COMUM E IMPOSSÍVEL
Resumo
Ao abrir a Pequena enciclopédia de seres comuns, de Maria Esther Maciel,
o leitor depara-se com o seguinte aviso:
Este livro talvez não exista. Ou melhor: sua inexistência é o que,
provavelmente, o justifica enquanto livro. Foi escrito por uma bióloga
que não é bióloga, mas finge ser uma, na medida do impossível. Já os seres vivos nele incluídos – todos classificados segundo certas peculiaridades de seus nomes comuns – têm uma realidade irrefutável: seja pela ciência, pela literatura ou por nenhuma das duas (2021, p. 5).
E, portanto, o livro existe. Maria Esther Maciel elaborou um paratexto
que faz justiça às narrativas de Borges, isto é, pode-se admitir que o livro
existe e não existe, pois o leitor pode ter em nas mãos apenas uma versão do livro ou, quando muito, uma variante das invenções enciclopédicas das quais a autora encarna o papel de uma agente que coleta informações exatas. Digamos que o livro admita sua existência e sua não existência. Com isso, promove um recorte de um universo muito mais vasto. Vejamos um exemplo que se divide em duas partes: por um lado, Maria Esther Maciel reflete brilhantemente sobre coleções, enciclopédias, taxonomias; ela dedicou livros ao assunto como o A memória das coisas: ensaios de Literatura, Cinema e Artes Plásticas, de 2004, e As ironias da ordem – coleções, inventários e enciclopédias, de 2010; e, por outro, a autora parodia a rigidez com qual as ínfimas e infinitas noções da vida entram nos critérios, nas metodologias,
enfim, nos rigores da ciência. Também em 2004, Maria Esther Maciel
publicou O livro de Zenóbia e, agora, em um gesto de quem parodia a si
mesma, ela nos apresenta a Pequena enciclopédia de seres comuns, dedicado à Zenóbia, “minha zoóloga/botânica de estimação”.
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