Introdução

Introdução

Wilton Barroso Filho[1]

[1] Professor Associado da Universidade de Brasília (UnB) atuando no Programa de Pós-graduação em Literatura (POSLIT- UnB) e no Programa de Pós-graduação em Metafísica (PPGu- UnB). Líder do Grupo de Pesquisa em Epistemologia do Romance (http://epistemologiadoromance.blogspot.com.br).


Tradicionalmente a relação entre Filosofia e Literatura se dá através da Hermenêutica, que produz há muito tempo resultados interessantes a propósito da interpretação do texto literário. No entanto a relação entre estas duas áreas do conhecimento não se esgota aí, além da Hermenêutica duas outras disciplinas da Filosofia Moderna podem e devem dar contribuições significativas aos Estudos Comparados: a Epistemologia e a Estética. A primeira pode inicialmente causar algum espanto porque a sua formulação moderna foi originalmente proposta por B. Russell, em 1894, em um ensaio sobre os fundamentos da Geometria, o que liga a Epistemologia à Teoria do Conhecimento. Mas, muito além de ingênuas suspeitas positivistas, é exatamente aí que reside o desafio inovador do uso da Epistemologia nos Estudos Comparados, porque, ao admitirmos a Epistemologia no jogo da tensão comparatista, fazemos surgir uma questão bastante interessante: o romance produz conhecimento?

A Arte do Romance, diferentemente das Ciências, não pode e não deve ser entendida em critérios redutivistas que proponham uma unívoca e universal definição do romance. Não obstante, se descolarmos o conceito de universal para os estudos de casos, onde cada gênero, cada romance ou ainda cada obra completa de um autor possa ser considerado um universo em si, podemos lançar mão da célebre pergunta formulada por E. Kant (1724-1804) em seu livro a Crítica da Razão Pura: o que que eu posso saber?

Comparando essa questão epistemológica fundamental com o texto romanesco podemos nos aperceber em um primeiro momento do efeito estético que a Arte do Romance provoca em sua recepção e ao mesmo tempo observar a grande semelhança deste efeito com a chamada Estética Transcendental de que nos fala Kant na primeira parte do livro.

Quando se busca entender esse primeiro efeito, se estará fazendo Epistemologia; ou seja, buscando o conhecimento como uma consequência do efeito estético, onde a sensação leva à razão. Essa busca do entendimento do texto romanesco leva primeiramente a um comparatismo de característica Histórica, mais exatamente de História da Literatura associada a uma certa Filosofia da Literatura.

A Epistemologia do Romance emerge como comparatismo complexo proveniente da análise do texto romanesco, do efeito estético e da História e Filosofia da Arte do Romance. Claro sempre será um entendimento temporário, aproximativo como bem admite Hans Vaihinger (1852-1933) em seu livro A Filosofia do “como se”. De um modo geral, o olhar humano sobre o mundo é sempre incompleto, por isso somos históricos, por conseguinte os nossos olhares sobre a Arte do Romance também são incompletos ou aproximados. Sagrado é o papel da Crítica Literária que contribui para a transformação dos nossos olhares no transcurso do tempo.

Assim sendo a Epistemologia permite uma leitura nova do romance, produzindo um serio ludere, ainda que a Arte do Romance permita que se batize um bebê antes do seu nascimento, tudo apoiado em uma Teologia inventada, tal como nos conta Laurence Sterne (1713-1768) na voz do seu personagem Tristam Shandy.

Neste número, trazemos contribuições que visam os seguintes aspectos do romance: as dimensões filosóficas e históricas do romance; seus aspectos sociológicos, antropológicos e/ou culturais da criação romanesca; análise de romances; regularidades, procedimentos formais, fundamentos ou princípios gerais da escrita romanesca; romance e epistemologia.

Boa leitura a todas e a todos.


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